A aposta está perdida. Querelle curva-se sobre a mesa. Dasabotoa o cinto, as calças, mas não chega a abaixá-las. Apenas abre as pernas e debruça-se mais sobre a mesa. O negro vem por trás. Primeiro, com a mão direita, abaixa as calças do marinheiro até os pés. Com a esquerda, desabotoa as próprias calças. O negro lambe o dedo indicador e começa a introduzi-lo entre as nádegas de Querelle. Seu dedo desaparece na carne branca. Não há nenhuma resistência. O negro retira o dedo e, com um único movimento firme, introduz seu membro dentro de Querelle. Querelle não se move. Com as duas mãos, o negro escancara as nádegas do outro para entrar mais, e melhor. Quando entrou completamente, sobe as mãos pelo peito de Querelle até alcançar os mamilos duros perdidos entre os pêlos. É quando o negro tem a primeira suspeita. Move-se mais, entrando dentro de Querelle. Morde sua nuca, enfia a língua em seus ouvidos. Querelle continua imóvel. O negro desce as mãos dos mamilos do outro pelos pêlos da barriga, até seu sexo. Quando a palma de sua mão segura o sexo rijo de Querelle, ele tem certeza absoluta. O marinheiro não perdeu a aposta. Ao contrário, é o único vencedor. É tarde demais para o negro recuar dessa derrota enviesada. Ao longe uma voz rouca de mulher cantarola sempre: "Each man kills the things he loves". O negro entra mais fundo, ao mesmo tempo em que sente a umidade do prazer de Querelle. Querelle começando a molhar a palma de sua mão. Lá-rá-rá-lá-rá-rá-rá: o negro geme e goza dentro de Querelle. Querelle não geme nem se move. Apenas goza também, ao mesmo tempo, abundantemente, na palma branca da mão do negro. A aposta está ganha.
Extraído e adaptado da obra "Querelle", de Jean Genet.
2 comentários:
decepcionou-me um tanto o filme, mas o livro, como todos de genet, é magnífico.
Gostei do tom 'teatral' que deram ao filme, não cheguei a ler o livro ainda...
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