segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Meu amigo Pedro era uma pedra na vida deles.
Como um pedaço solto de coragem,
nem bem crescido ainda, saiu, lutou e morreu.
Morreu assim como um corpo arrebentado, esticado, dividido.
Morreu como um afogado, agonizando, torturado.
Morreu como seu pai, desaparecido.
Mas ninguém esperava que ele fosse reviver.
Ninguém esperava que ele fosse mais
do que aquele monte de carne e osso que sobrou
depois de dois dias nas salas escuras,
depois de dois dias de choques, água fria, pauladas, perguntas.
Ninguém esperava que Pedro fosse de pedra.
Que pedra pode estar parada, inerte,
mas pode ser pedra no ar, arremesso, tiro, vidro estilhaçado...
Que pedra pode ser raiva na multidão,
pode ser fogo, fome, febre,
pedra pode ser mais!
Porque carne é mais que pedra,
e Pedro é mais que carne...
Que não adianta represar os rios se não se pode parar a chuva.
Ninguém esperava que seus amigos, irmãos, todos,
todos soubessem de tudo,
mas que não podiam fazer nada.
Que a diferença de Pedro e nós
é a mesma de um assaltante de bancos e um batedor de carteiras.
Mas o tempo é o melhor remédio, e o tempo tudo cura.
Mesmo as feridas deixadas por Pedro.
Menos as que em seu corpo permaneceram
depois que ele ficou ali num canto da sala
agonizando enquanto seus algozes tomavam café!
Mas o que eu quero dizer,
é que ninguém esperava que eu,
justamente eu, filho da mesma noite,
contasse essa história!
(Trecho de "Bailei na Curva")

Um comentário:

Fabrizio Rodrigues disse...
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