terça-feira, 13 de novembro de 2007

Posts no blog da Traça!

Oi, Oi, Oi!

Seguem abaixo os links dos últimos posts que fiz no blog do portal da Livraria Traça... de agora em diante vou estar mais seguidamente por lá!

http://www.traca.com.br/main/traca.php?dia=7&mes=11&ano=2007

http://www.traca.com.br/main/traca.php?dia=28&mes=5&ano=2007

Grande abraço!!!!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Tributo a Caio F.

Do Envelhecer

Venho hoje lhes falar sobre o seguinte tema: velhice. Não somente a velhice dos homens, mas também a velhice dos livros. Dia desses, quando estava eu a folhear algumas edições do inicio do século passado, dei-me conta de como é instigante e curioso o pensar sobre a vida de um livro. Digo vida, pois considero que o nascimento de uma obra se dá no exato momento em que surge a idéia da mesma na cabeça de seu devido autor, e que após esse processo de "maternidade", o livro ganha vida própria, desencilhando-se de seu criador e levando eternamente para o mundo os traços e as idéias de seu pai.Ao ter nas mãos um livro usado, fico a imaginar sua trajetória desde o nascimento até o momento atual. Observo inicialmente a capa, e fico a pensar: Seria ela a comparação da face humana, que exposta aos olhares, dá indícios receosos de seu conteúdo? E as discretas manchas que vão surgindo primeiro no corte, depois na margem das páginas, seriam comparáveis às manchas que, sem que percebamos, vão surgindo na pele e ficando cada vez mais evidentes com o passar dos anos? Ah, e as anotações? Elas sim, são verdadeiros fragmentos de vidas capturados do tempo e salvos entre as páginas como folhas secas guardadas e esquecidas para todo o sempre, até que um folhear as despertem de seu sono quase eterno. É comum ouvirmos dizer que, é preciso antes de morrer, ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Entre estes três deveres, tenho crença de que, o que mais deixará resquícios de nossa existência é o terceiro. Pois um livro levará nossa mensagem até os tempos mais longínquos. Tomemos como exemplo alguns autores que vieram a ser reconhecidos somente anos, décadas, séculos após deixarem esse mundo, e que são lembrados e se fazem presentes através de suas obras. O que quero lhes dizer é exatamente que, assim como nós homens, os livros têm sua trajetória de vida e carregam consigo as marcas do tempo e dos fatos que presenciaram. Muito além das letras impressas, há encarnada em cada página, uma alma, uma entrega, um testemunho, angustia, desejo, esperança, uma vida... vida essa que envelhece e repousa ali, nas fibras do papel...

DB

Amor sacro e amor profano


Amor sacro e amor profano, pintura de Tiziano Vecellio (pintor renascentista nascido em Pieve di Cadore/Itália por volta de 1490), é também conhecida como Vênus e a donzela. A tela retrata duas mulheres e uma criança situados ao redor de uma fonte de pedra.

O quadro se utiliza de um tema alegórico e mostra uma atmosfera repousada em que natureza e mito se fundem harmoniosamente. As duas figuras de mulher personificam o sentido mítico e arcano da imagem, mas na aparente harmonia, há um jogo de contrastes. Podemos observar que uma das mulheres usa um vestido de cor clara, enquanto a outra está nua e envolta em um manto vermelho. A paisagem de fundo ao lado esquerdo destona da paisagem ao lado direito. A vegetação é composta por cores escuras, enquanto o céu é claro e alaranjado pelo crepúsculo.

É possível detectar o recurso da “paisagem moralista”, que consiste em dividir a paisagem de fundo em duas metades de caráter simbolicamente contrastado. Á esquerda temos uma cidade fortificada e dois coelhos (símbolos de amor animal e fertilidade). Á direita, encontramos uma cena mais rústica e menos luxuosa, mas mais luminosa, com um rebanho de ovelhas e a torre de uma igreja.

As mulheres, de beleza renascentista, tem características similares, havendo-se pensado em algumas ocasiões que tratavam-se da mesma pessoa. Uma donzela vestida luxuosamente, sentada junto de um cupido e sendo observada pela outra que está despida. A figura vestida segura em suas mãos uma vasilha cheia de ouro, que simboliza a efêmera felicidade da terra, e a despida sustenta uma lamparina com a chama acesa (presença de Deus) que simboliza a felicidade eterna do céu. O fato de estar despida representa o desapego às coisas materiais. Trata-se de uma cena alegórica influenciada pela concepção neoplatônica renascentista, típica de Marsílio Ficino, segundo qual a beleza terrena é um reflexo da beleza celestial.

Panofsky, em seu livro Estudios sobre iconología (Editora Alianza, Madrid - 1979) faz a seguinte afirmação sobre a obra:


“Suas figuras não representam um contraste entre o bem e o mal sendo que simbolizam um princípio em dois modos de existência e dois graus de perfeição. A nobre despida não deprecia a caricatura mundana, cuja posição promove a comparação. Pois com um olhar generosamente persuasivo parece estar comunicando os segredos de uma região mais elevada.”

A última frase da afirmação de Panofsky nos permite relacionar a pintura ao trecho de Enéadas I, 6 (Plotino) que diz:


“Fujamos, pois, à cara pátria. Mas como partir, como preparar esta fuga? Não certamente com os nossos pés, porque eles sempre nos levam de um lugar para outro da Terra. Nem é preciso aparelhar carruagens ou navios, mas abandonar todas essas coisas, e não lhes dirigir os nossos olhares, fechar os olhos corporais e despertar outros, que todos possuem mas que poucos usam.”

O trecho remete à um conceito de estética que não baseia-se na visão material das coisas e sim em uma beleza de nível espiritual, que não é facilmente vista, pois não são os olhos “corporais” que podem detectá-la, mas sim uma percepção interna que temos de desenvolver.

Analisando o seguinte trecho da Opera aliquot de Celio Calcagnini, podemos ter uma noção mais ampla da linguagem utilizada na pintura de Tiziano.


“Pensas que os mistérios deixam de ser mistérios quando são divulgados? Eu penso o contrário. Pensas acaso que os tesouros devam permanecer ocultos? Esta é a opinião dos avarentos. De que serve uma música escondida? Os mistérios permanecem sempre mistérios, desde que não sejam comunicados a ouvidos profanos. [...] Porque é como diz Hesíodo: a palavra é o maior tesouro do homem. Mas um homem prudente deve sempre alternar a palavra e o silêncio.”

Ao propor a mensagem de sua obra, através dos símbolos escolhidos, de forma que não os deixá-se explícitos, Tiziano comunicava a verdadeira beleza da obra somente a aqueles que estariam aptos a serem receptores de sua mensagem.

A linguagem dos símbolos representa a oposição ao materialismo. Podemos considerar que ao utiliza-los, estamos “abrindo mão de todas essas coisas” de concretude e alcançando uma percepção capaz detectar a essência da obra.


“Como diz Dioniso, o raio divino não pode chegar até nós se não for envolto em véus de poesia.”
(Egidio da Viterbo)

Porto Alegre, 27 de abril de 2007.
DB

A Bela e a Correnteza


Pelo espaço de um piscar
vi seu corpo entregar-se
como oferenda ao reino das águas.
Parecia uma boneca de porcelana
pálida e com os olhos arregalados de espanto.
Seus lábios abriam-se para espalhar seu canto
mas a imensidão de um rio corrente
a tomava e a fazia calar.
Incansavelmente lutava
para manter-se perto da margem e para flutuar,
mas em um golpe de covardia
as águas rudes e fortes diante da delicadeza da bela moça
a fizeram naufragar
e novamente pelo espaço de um piscar
vi o azul de seus olhos se desfazendo
e seu corpo finalmente flutuou sobre o leito do rio.
Nada mais importava agora,
a bela com sua beleza,
perdia a vida diante da correnteza
e nada pôde ser feito.
Em seu destino já estava marcado,
seu último dia seria alegre, sublime e com muito amor
mas em um momento de descuido se faria o horror
e uma alma vagaria pela eternidade
zelando pela calmaria daquelas águas.
DB