terça-feira, 6 de novembro de 2007

Do Envelhecer

Venho hoje lhes falar sobre o seguinte tema: velhice. Não somente a velhice dos homens, mas também a velhice dos livros. Dia desses, quando estava eu a folhear algumas edições do inicio do século passado, dei-me conta de como é instigante e curioso o pensar sobre a vida de um livro. Digo vida, pois considero que o nascimento de uma obra se dá no exato momento em que surge a idéia da mesma na cabeça de seu devido autor, e que após esse processo de "maternidade", o livro ganha vida própria, desencilhando-se de seu criador e levando eternamente para o mundo os traços e as idéias de seu pai.Ao ter nas mãos um livro usado, fico a imaginar sua trajetória desde o nascimento até o momento atual. Observo inicialmente a capa, e fico a pensar: Seria ela a comparação da face humana, que exposta aos olhares, dá indícios receosos de seu conteúdo? E as discretas manchas que vão surgindo primeiro no corte, depois na margem das páginas, seriam comparáveis às manchas que, sem que percebamos, vão surgindo na pele e ficando cada vez mais evidentes com o passar dos anos? Ah, e as anotações? Elas sim, são verdadeiros fragmentos de vidas capturados do tempo e salvos entre as páginas como folhas secas guardadas e esquecidas para todo o sempre, até que um folhear as despertem de seu sono quase eterno. É comum ouvirmos dizer que, é preciso antes de morrer, ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Entre estes três deveres, tenho crença de que, o que mais deixará resquícios de nossa existência é o terceiro. Pois um livro levará nossa mensagem até os tempos mais longínquos. Tomemos como exemplo alguns autores que vieram a ser reconhecidos somente anos, décadas, séculos após deixarem esse mundo, e que são lembrados e se fazem presentes através de suas obras. O que quero lhes dizer é exatamente que, assim como nós homens, os livros têm sua trajetória de vida e carregam consigo as marcas do tempo e dos fatos que presenciaram. Muito além das letras impressas, há encarnada em cada página, uma alma, uma entrega, um testemunho, angustia, desejo, esperança, uma vida... vida essa que envelhece e repousa ali, nas fibras do papel...

DB

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