domingo, 20 de dezembro de 2009

Dancing!

Creio que o moço da dancinha aí, me seria um cliente e tanto. Inveja! No mínimo, deve ser funcionário de cia. aérea.



Repito:

"Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir."
Amyr Klink

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Jane Birkin


Dia desses acordei com vontade de ouvir música francesa. Garimpando em alguns guias, esbarrei em nomes já conhecidos como Piaf e Carla Bruni. Acabei também descobrindo alguns outros que, até então, apenas me soavam familiares: Françoise Hardy e Jane Birkin.
Françoise é ótima, não resta dúvida, mas fiquei especialmente encantado com Jane. A voz dela é um suspiro. Suave. Quente. Basta ouvi-la, o coração aquece.


Pra quem acha que não a conhece, quando ouvir "Je t'aime... moi non plus" vai logo lembrar da trilha do Big Brother Brasil em que a moça, em dueto com Serge Gainsbourg, cantava deliciosos sussurros. Foi essa mesma música que causou o maior escândalo em seu lançamento nos anos 70. Só escutando para entender o porque. Serge havia composto a música para gravá-la com seu affaire, nada mais, nada menos que Brigitte Bardot, mas ao pressentir o que estava por vir, Brigitte abandonou o barco. E foi então a predestinada Jane que protagonizou a polêmica e, para arrematar, acabou casando-se com Serge. Como tantos outros casais do universo musical (Cher e Sonny, Lennon e Yoko), os dois eram memoráveis. Arrancavam olhares curiosos e admirados por onde passavam.


De lindo em Jane, não havia somente a voz. A menina exalava beleza e sensualidade. Bem ao estilo Lolita, era dona de um ar inocente, de quem parecia nem se importar com toda a badalação que envolvia seu nome. E é extenso o seu curriculo. Consultando a Wikipédia, a filmografia de Jane (sim, ela era também atriz) soma em torno de 70 filmes. Quanto aos discos, mais ou menos 16 albuns lançados... sejam eles solos ou em parceria com outros cantores. Entre os principais, lógico que esta o famoso dueto com Serge.


Como nada é eterno, o casamento quase perfeito veio ao fim. Após a separação, Jane lutava para sair da sombra daquele que a impulsionou para o sucesso. Tentava seguir a vida, divulgar seu trabalho. Serge faleceu em 1991. E ela, continua cantando e atuando, não com a mesma energia de antes, e nem com os mesmos atributos físicos, já que o tempo tem fome de juventude alheia. Mas, seja como for, sentirei no corpo um arrepio toda vez que ouvir o canto de Jane Birkin. Je t'aime, je t'aime... ou oui je' t'aime... oh mon amour.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um pouco de Açucar


É incrível, como você tem o poder de mudar minha vida com meia dúzia de palavras. O poder de encher meu rosto de sorrisos tenros e de olhares plenos. De inflar com bons ares o peito e enfeitar de suspiros os meus dias. Em meu ouvido, toda noite, tua voz lateja. A pele eriça, dói a ausência. Fecho então os olhos para o sono, como se os fechasse para um beijo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Fabuloso Destino...

Em 3 de setembro de 1973, às 18:28:32, uma mosca californiana, capaz de 14.670 batidas de asa por minuto pousou na Rua Saint Vicent, em Montmartre. No mesmo segundo, no terraço de um restaurante perto do Moulin-de-la-Galette, o vento esgueirou-se como por magia sob uma toalha de mesa fazendo os copos dançarem sem que ninguém notasse. Nesse instante, no 5º andar do nº28 da Rua Trudaine, 9º distrito, Eugène Colère, de volta do enterro de seu amigo Émile Maginot apagou seu nome da caderneta de telefones. Ainda nesse mesmo segundo, um espermatozóide de cromossomo X, pertencente ao Sr. Raphaël Poulain, destacou-se do pelotão e alcançou um óvulo pertencente à Sra. Poulain, em solteira, Amandine Fouet. Nove meses depois, nascia Amélie Poulain.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim."
Caio F.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009


"Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"


Eça de Queiróz - O Primo Basílio

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

De tudo ficarão três coisas

A certeza de que estamos sempre começando,
a certeza de que é preciso continuar,
a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto devemos:
fazer da interrupção um caminho novo,
da queda, um novo passo de dança,
do medo, uma escada,
do sonho, uma ponte
da procura, um encontro.
E assim terá valido a pena existir!

P.S.: Há no Google diversas versões deste poema. A autoria é, por alguns, atribuída a Fernando Sabino. Outros dizem que o poema é de Fernando Pessoa. Para pôr mais lenha na fogueira, eu diria que é de Fernando Henrique Cardoso.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Utopia

Me contradizendo...

Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei.
Para que serve a utopia?
Para isso serve: para caminhar.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis. Digo-lhe que faz mal, que é melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir."

Machado de Assis

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Uma alma especial que conheci...







Mais uma vez, ausência

Noite passada tive um sonho ruim. Talvez seja pelo medo que tem me tomado nos últimos dias, mas sonhei ter perdido minha mãe. Acordei assustado, tentando entender se havia sido sonho ou se era real. Chorei de soluçar. Lembrei que meses antes havia tido o mesmo sonho e a mesma reação. Nesta primeira vez, telefonei no meio da madrugada para uma pessoinha que dividia a vida comigo naquela época, pedindo colo. O agravante foi que dessa vez, eu não tinha mais para quem ligar. Então o medo causado pelo sonho, se misturou ao medo causado por aquilo que resta de um amor de águas passadas. Como dizia Cazuza: “Tive um sonho ruim e acordei chorando, por isso eu te liguei. Será que você ainda pensa em mim? Será que você ainda pensa?”

10/11/2009

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Saga da Garrafinha

Fazendo pose...


fazendo amizade...
namorando ao pôr-do-sol...
69
by night.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Poema da Gare de Astapovo


O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou-se e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo sozinho àquela hora,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos de infância!


Mário Quintana

sábado, 24 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Divagações sobre um punhado de areia

.
Dia desses, li uma frase que dizia mais ou menos assim: "O amor é como um punhado de areia na mão. Com sabedoria, pode-se criar um reinado. Mas se a mão fecha demais, escorre pelos dedos. E se aberta demais, voa pelos ares." Cito de memória, não sei se correto. E o autor, constava como desconhecido.

Posso dizer que já tive nas mãos alguns punhados de areia. Já de início, é preciso agradecer por ter-se nas mãos, justamente um punhado de areia. E não, outras substâncias menos concretas, como a água, difícil de deter. Quando queremos muito algo, tendemos a segurá-lo com todas as forças. Mas a força afugenta. É preciso, então, ponderar. Insinuar, fazer tipos, mascarar o desejo, a vontade. É preciso, estar afim, sem parecer estar tão afim. Da mesma forma que, se a mão afrouxa demais, a coisa pode escapar por entre os dedos, não persistir. Qual seria a fórmula então? Um abraço folgado em vez de um bem apertado. Aproximações breves e alternadas, ao invés de presenças constantes. Palavras que apenas insinuem, em vez das que realmente dizem.

Neste "querer, sem querer", pergunto: quando é que a coisa acontece de fato? É quando há a vontade de dizer, em vez de insinuar? É quando há a necessidade da presença constante, ao invés da aproximação breve e alternada? É quando os abraços folgados e sem vigor dão lugar aos beijos e abraços apertados?

Com sabedoria, pode-se criar um reinado.

domingo, 11 de outubro de 2009

Aos meus amigos


Nem tão beats como os célebres amigos de Allen Ginsberg, mas com tantas histórias quanto, seguem estas linhas complementares ao Uivo beatnik que contam a história de outro grupo de amigos, um tanto mais ao sul...

que andaram sob a chuva pela madrugada cantarolando Fafá de Belém,

que pintaram seus cabelos de azul e coloriram paredes, toalhas, lençóis e cortinas de quartos de motel,

que vestiram-se com saias de tule verde-limão e celebraram a vida dançando ao som de Xuxa Meneguel,

que rolaram na grama de madrugada aos socos e golpes de taquara interrompendo festas de aniversário,

que dormiram ao lado de B e acordaram ao lado de W,

que tiveram ataques de sonambulismo em horas inapropriadas,

que em plena vertigem destruíram banheiros, beijaram os pés de estátuas de Netuno, vomitaram em estações de trem ou abraçados em vasos sanitários,

que abraçados foram atropelados,

que beberam shampoo por achar que a vida estava um tanto densa, pesada demais, na esperança, talvez, de flutuar como bolha de sabão,

que tantas vezes lutaram pelo amor, tiveram a ilusão de tê-lo e no fim voltaram machucados para o colo uns dos outros,

que dançaram Like a Virgin em finais de tarde no Parque da Redenção e se conheceram,

que tomaram porres históricos à base de vinho barato aglomerando-se pelas calçadas e interagindo com estranhos,

que estudaram arduamente para, quem sabe, em um futuro não muito distante exercerem a profissão de corretores imobiliários,

que foram abordados ao nascer do dia por bandos de ogros curiosos-pederástas que fizeram seu circo e os enxotaram a leves pancadas de cassetetes nos traseiros,

que passaram feriados de carnaval reunidos em apartamentos, praticamente sem dinheiro, alimentando-se a suco, sanduíche e carne de soja,

que esgotaram garrafas de absinto em boates litorâneas,

que percorreram a cidade pelos lugares mais improváveis, dormiram em sofás de casas desconhecidas e foram acordados por travestis,

que por ironia do destino se pecharam em quartos escuros,

que arranjaram uma Igreja alternativa para rezarem sempre que quiserem,

que praticamente todo o tempo vivem como casais, apesar de serem simplesmente amigos,

que estiveram em camarins de grandes teatros entrevistando divas da comédia,

que arremessaram garrafas ao se sentirem traídos,

...são estes os abençoados.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Uivo

por Allen Ginsberg

Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa, "hipsters" com cabeça de anjo ansiado pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,

que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,

que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de cômodos,

que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake entre os estudiosos da guerra,

que foram expulsos das universidades por serem loucos & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,

que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas de papel, escutando o Terror através da parede,

que foram detidos em suas barbas púbicas voltando por Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York,
(...)

que se acorrentaram aos vagões do metrô para o infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx de benzedrina até que o barulho das rodas e crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca arrebentada e o despovoado deserto do cérebro esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zoológico,

que afundaram a noite toda na luz submarina de Bickford's, voltaram à tona e passaram a tarde de cerveja choca no desolado Fuggazi's escutando o matraquear da catástrofe na vitrola automática de hidrogênio,

que falaram setenta e duas horas sem parar do parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao Museu à Ponte de Brooklyn,
(...)

que deram voltas e voltas à meia-noite no pátio da estação ferroviária perguntando-se onde ir e foram, sem deixar corações partidos,

que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões de carga, vagões de carga que rumavam ruidosamente pela neve até solitárias fazendas dentro da noite do avô,

que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz, telepatia e bop-cabala pois o Cosmos instintivamente vibrava a seus pés em Kansas,

que passaram solitários pelas ruas de Idaho procurando anjos índios e visionários que eram anjos índios e visionários,
(...)

que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos, nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,

que morderam policiais no pescoço e berraram de prazer nos carros de presos por não terem cometido outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica,

que uivaram de joelhos no Metrô e foram arrancados do telhado sacudindo genitais e manuscritos,

que se deixaram foder no rabo por motociclistas santificados e urraram de prazer,

que enrabaram e foram enrabados por esses serafins humanos, os marinheiros, carícias de amor atlântico e caribenho,

que transaram pela manhã e ao cair da tarde em roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem quisesse vir,

que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar mas acabaram choramingando atrás de um tabique de banho turco onde o anjo loiro e nu veio atravessá-los com sua espada,

que perderam seus garotos amados para as três megeras do destino, a megera caolha do dólar heteressoxual, a megera que pisca de dentro do ventre e a megera caolha que só sabe ficar plantada sobre sua bunda retalhando os dourados fios intelectuais do tear do artesão,
(...)

que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos no dia seguinte mesmo assim prontos para adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas nos celeiros e nus no lago,

que foram transar em Colorado numa miríade de carros roubados à noite, N.C. herói secreto destes poemas, garanhão e Adonis de Denver - prazer ao lembrar das suas incontáveis trepadas com garotas em terrenos baldios & pátios dos fundos de restaurantes de beira de estrada, raquíticas fileiras de poltronas de cinema, picos de montanha, cavernas ou com esquálidas garçonetes no familiar levantar de saias solitário à beira da estrada & especialmente secretos solipsismos de mictórios de postos de gasolina & becos da cidade natal também,
(...)

que sonharam e abriram brechas encarnadas no Tempo & Espaço através de imagens justapostas e capturaram o arranjo da alma entre 2 imagens visuais e reuniram os verbos elementares e juntaram o substantivo e o choque de consciência saltando numa sensação de Pater Omnipotens Aeterni Deus,

para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa humana e ficaram à sua frente, mudos e inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados todavia expondo a alma para conformar-se ao ritmo do pensamento na sua cabeça nua e infinita,

o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo, desconhecido mas mesmo assim deixado aqui o que houver para ser dito no tempo após a morte,

e se reerqueram na roupagem fantasmagórica do jazz no espectro de trompa dourada da banda musical e fizeram soar o sofrimento da mente nua da América pelo amor num grito de saxofone de eli eli lama lama sabactani que fez com que as cidades tremessem até seu último rádio,

com o coração absoluto do poema da vida arrancado para fora dos seus corpos para comer por mais mil anos.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague
Chico Buarque

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel."
Caio F.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Me dá um beijo, então
Aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura..."

sábado, 19 de setembro de 2009

Henri Cartier-Bresson

Junto às comemorações ao Ano da França no Brasil, estarão expostas, de 17/09 a 20/12, em São Paulo, no Sesc Pinheiros, 133 imagens do fotógrafo Henri Cartier-Bresson, considerado "o olho do século XX".

Bresson tem uma biografia e tanto: serviu o exército francês na Segunda Guerra, foi levado por alemães a um campo de prisioneiros, promoveu duas tentativas de fuga e obteve sucesso na terceira; viajou pelo mundo inteiro, África, Índia, China, Europa, União Soviética, EUA; fundou junto com com Bill Vandivert, Robert Capa, George Rodger e David Seymour a agência fotográfica Magnum; trabalhou para revistas como a Life, Vogue e Harper's Bazaar; na década de 50 suas fotografias foram compiladas em diversos livros, o mais importante deles, "Images à la Sauvette".

Para Bresson, “Tirar fotos é prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz” (...) “É pôr numa mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração.”

Influenciado pelos surrealistas, não pela pintura deles, mas pela percepção do subconsciente, se deixou levar pelo instinto, clicando cenas simples nas ruas, flagrantes das belezas do cotidiano, e construiu um legado considerado o ápice da fotografia humanista e do fotodocumentário.




quinta-feira, 17 de setembro de 2009

El Ateneo

Uma dica e tanto para os amantes da literatura (e da arquitetura, pode-se dizer): quando forem à Buenos Aires, em hipótese alguma deixem de conhecer a livraria El Ateneo Grand Splendid. Situada na avenida Santa Fé, no prédio de o que era, no início do século XX, um grande teatro, a livraria é de um requinte que só vendo. Sean Dodson, jornalista do renomado The Guardian, publicou há alguns meses uma lista com as dez livrarias mais lindas do mundo. A El Ateneo ficou em segundo lugar, perdendo apenas para a Boekhandel Selexyz Dominicanen, uma antiga igreja de 800 anos localizada em Maastricht, nos Países Baixos.
Na El Ateneo, o que era o palco do extinto teatro foi transformado em um café. É possível sentar-se nos camarotes para apreciar um bom livro e o espaço da platéia foi ocupado por prateleiras com obras dos mais variados estilos. Impossível não se encantar.

Segue a lista do The Guardian:

1) Boekhandel Selexyz Dominicanen in Maastricht
2) El Ateneo in Buenos Aires
3) Livraria Lello in Porto
4) Secret Headquarters comic bookstore in Los Angeles
5) Borders in Glasgow
6) Scarthin's in the Peak District
7) Posada in Brussels
8) El Péndulo in Mexico
9) Keibunsya in Kyoto
10) Hatchards in London
.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sutilmente

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce

Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

Samuel Rosa / Nando Reis

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Povo Erotizado

Não pense que somente em terras tupiniquins prevalece o erotismo e o apelo sexual. Se por um lado, o Brasil tem a fama das mulatas, do Carnaval, da prostituição que tanto vemos estampar as páginas dos jornais, já em Buenos Aires há quem fique surpreso com certas ofertas. Começando pelos cartazes espalhados aos quatro cantos da cidade, anunciando shows de strippers e outras cositas mas. Depois, ao andar pela avenida Corrientes, conhecida por seus inúmeros teatros e livrarias... bom, sugiro dar uma conferida em algum espetáculo do 'tradicional' teatro de revista. Nas próprias fachadas, já estão estampadas em tamanhos garrafais fotografias do elenco, digamos, bem à vontade. Os telefones públicos de Buenos Aires, tem uma função extra além de seu óbvio propósito de telefonar. Principalmente à noite, os telefones transformam-se em porta-folheteria, das casas de conveniência, é claro. Não é muito difícil encontrar algum taxista (e cuidado com os taxistas), ou mesmo alguém que lhe aborde na rua, oferecendo 'entretenimento', se é que você me entende. E por fim, resolve-se enviar um lindo cartão-postal, pra sogra jararaca, pro vovô, ou pra aquela tia lá da cacimbinha do norte... ficou em dúvida entre o obelisco ou a casa rosada? dançarinos de tango ou che guevara? Tá resolvido, mande um postal das belas morochas de seio de fora. Ô trem bão!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Todo mundo mata aquilo que ama."
Oscar Wilde

Querelle

A aposta está perdida. Querelle curva-se sobre a mesa. Dasabotoa o cinto, as calças, mas não chega a abaixá-las. Apenas abre as pernas e debruça-se mais sobre a mesa. O negro vem por trás. Primeiro, com a mão direita, abaixa as calças do marinheiro até os pés. Com a esquerda, desabotoa as próprias calças. O negro lambe o dedo indicador e começa a introduzi-lo entre as nádegas de Querelle. Seu dedo desaparece na carne branca. Não há nenhuma resistência. O negro retira o dedo e, com um único movimento firme, introduz seu membro dentro de Querelle. Querelle não se move. Com as duas mãos, o negro escancara as nádegas do outro para entrar mais, e melhor. Quando entrou completamente, sobe as mãos pelo peito de Querelle até alcançar os mamilos duros perdidos entre os pêlos. É quando o negro tem a primeira suspeita. Move-se mais, entrando dentro de Querelle. Morde sua nuca, enfia a língua em seus ouvidos. Querelle continua imóvel. O negro desce as mãos dos mamilos do outro pelos pêlos da barriga, até seu sexo. Quando a palma de sua mão segura o sexo rijo de Querelle, ele tem certeza absoluta. O marinheiro não perdeu a aposta. Ao contrário, é o único vencedor. É tarde demais para o negro recuar dessa derrota enviesada. Ao longe uma voz rouca de mulher cantarola sempre: "Each man kills the things he loves". O negro entra mais fundo, ao mesmo tempo em que sente a umidade do prazer de Querelle. Querelle começando a molhar a palma de sua mão. Lá-rá-rá-lá-rá-rá-rá: o negro geme e goza dentro de Querelle. Querelle não geme nem se move. Apenas goza também, ao mesmo tempo, abundantemente, na palma branca da mão do negro. A aposta está ganha.

Extraído e adaptado da obra "Querelle", de Jean Genet.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Blues da Piedade



"Pra quem não sabe amar,
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho..."
Acordo no meio da tarde, que nem uma gata gorda e preguiçosa, me contorcendo entre o amontoado de cobertas e travesseiros. Não há ninguém comigo. O vento (sempre o vento) sacode as persianas de plástico branco do apartamento, muito pequeno, mas aconchegante e todo meu. Posso ficar por horas neste despertar, mas resolvo acender o abajur. Pego o vidrinho de acetona e dou fim a vermelhidão de minhas unhas. Escolho uma nova cor, café. Mais pra boa-senhora do que pra puta-de-esquina. Estendo a perna em direção à tv e aperto o power com o dedão do pé. Logo vejo uma imagem mal sintonizada de algo que parece ser um filme antigo do Stallone. Não presto muita atenção, mas deixo a tv ligada apenas para o apartamento parecer mais vivo. E agora, você me pergunta, o que acontece? Qualquer coisa, baby. Digo, qualquer coisa. Algum vizinho pode tocar a campainha, o que é pouco provável em uma tarde de quinta-feira. Algum telefone pode tocar, o mundo acabar (não, o mundo não acaba nunca), posso gritar, posso cantar, posso bater um bolo, acender uma vareta de incenso, colocar pra fora o lixo de dias, limpar a cozinha, fumar um baseado, me masturbar, chamar o garotão do segundo piso que, sempre solícito, dá festas e me convida, posso tomar um banho demorado, ler um romance, ouvir Legião, Cazuza ou Neil Young, posso procurar um terapeuta nas páginas amarelas do guia telefônico, fazer promessas que não vou cumprir, beber alguma coisa forte, sair e encher a cabeça de algum panaca (ad infinitum)... ou absolutamente nada.

Andaram me dizendo que o melhor mesmo é "viver" de ficção.
Taí, acho que vou acabar vestindo essa idéia. Ou não!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Abro os olhos, dois minutos antes do despertador me fazer abrí-los, pulo da cama. Chuva lá fora, vento frio. Vontade de ficar na cama, ou não ficar, sabe-se lá. Me adorno de toda tralha necessária para mais um dia de trabalho. E sigo, ligado no piloto automático. Chego com cara de poucos amigos, me acomodo em minha mesa, tomo um café, degluto um alfajor (o último que restou de Buenos Aires), verifico as pendências... Toca uma música conhecida, Cazuza, que por enorme coincidência é o toque do meu celular, mas dessa vez não foi ele que tocou (só dessa vez). Respiro fundo e o dia começa. Certo aperto no peito, tontura, vertigem. Deuses!... uma epifania para o meu dia, please!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pálpebras de Neblina

Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais. Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza. Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar.
Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono. Da Praça Roosevelt, fui subindo pela Augusta, enquanto lembrava uns versos de Cecília Meireles dos Cânticos: "Não digas: 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? /Que foi que te ensinaram/que era sofrer?" Mas não conseguia parar. Surdo a qualquer zen-budismo o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem famíla, quem sabe nem moradia - coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban - filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto que alguém me salvasse do pecado de querer abrir o gás. Foi então que a vi.
Estava encostada na porta de um bar. Um bar brega - aqueles da Augusta-cidade, não da Augusta-Jardins. Uma prostituta, isso era o mais visível nela. Cabelo malpintado, cara muito maquiada, minissaia, decote fundo. Explícita, nada sutil. puro lugar-comum patético. Em pé, de costas para o bar, encostada na porta, ela olhava a rua. Na mão direita tinha um cigarro; na esquerda, um copo de cerveja. E chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemido, nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar - exposta, imoral, escandalosa - sem se importar que a vissem sofrendo.
Eu vi. Ela não me viu. Não via ninguém, acho. Tão voltada para sua própria dor que estava, também, meio cega. Via para dentro: charco, arames farpados, grades. Ninguém parou. Eu, também, não. Não era um espetáculo imperdível, não era uma dor reluzente de neon, não estava enquadrada ou decupada. Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca-grossa da vida. Sem o recurso dessas benditas levezas nossas de cada dia - uma dúzia de rosas, uma música de Caetano, uma caixa de figos.
Comecei a emergir. Comparada à dor dela, que ridícula a minha, de brasileiro-médio-privilegiado. Fui caminhando, mais leve. Mas só quando cheguei à Paulista compreendi um pouco mais. Aquela prostituta chorando, além de eu mesmo, era também o Brasil. Brasil 87: explorado, pobre, escroto, vulgar, maltratado, abandonado, sem um tostão, cheio de dívidas, solidão, doença e medo. Cerveja e cigarro na porta do boteco vagabundo: Carnaval, futebol. E lágrimas. Quem consola aquela prostituta? Quem me consola? Quem consola você, que me lê agora e talvez sinta coisas semelhantes? Quem consola este país tristíssimo?
Vim para casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia sozinha chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "por quê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?

By Caio F. in Pequenas Epifanias

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Gostosuras!

Tá com fome?

É curioso pensar que exista um equivalente ao nosso "pastel com guaraná". Os amigos porteños se deliciam o tempo todo com "empanadas y pomelo", seja no almoço, no café da tarde ou no jantar... o cardápio muda apenas no café da manhã, onde entram em cena as media lunas, uma espécie de croissaint, só que sem recheio e com a massa um pouco mais doce. Para quem quer gastar pouco e experimentar a gastronomia local, estas são as opções mais indicadas. Depois, há diversos restaurantes oferecendo variados tipos de carnes, parrillas e outras tentações que acabam com qualquer dieta. Se você prefere não abrir mão dos hábitos alimentares inspirados pelo Tio Sam, em cada esquina de Buenos Aires se encontra um Mc Donald's ou um Burger King. Com leves (e deliciosas) diferenças em relação ao menu brasileiro, no Mc de lá se encontra casquinhas (cucuruchos) sabor dulce de leche e até mesmo sanduiches curiosos como o Bagel con Lomito y Huevo que, traduzindo, não passa de um sofisticado pão com ovo.


Media lunas...
Empanadas...
Mais empanadas...
Fainá...

Pomelo...

Burger King...

Ah, e já ia esquecendo... não deixem de comer o sorvete da Freddo. É sensacional!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Palavras de Anita

Neste post, quem escreve aqui no blog é Ana Persia, amiga de tantas andanças...



Como disse certa vez um antigo amor, um dos segredos da felicidade é usar sapatos confortáveis. Eles dão liberdade, levam longe.
Já sabia que isso era mesmo assim faz um tempo, mas ao voltar a Buenos Aires e ter só dois dias para fazer tudo que fosse possível, essa frase caiu como uma luva. Tivemos dois dias e algumas horas para percorrer uma cidade enorme e interessante em cada um de seus cantos. Foi um desafio aos pés e pernas caminhar durante horas, mas um prazer enorme (re) ver uma cidade linda, estar de novo por aquelas ruas, cruzar as esquinas, sentir a atmosfera, escutar, olhar e quase sentir as pessoas tão próximas e tão estrangeiras ao mesmo tempo. Tão diferentes de nós, tão iguais a nós, tão bonitas, tão singulares. Caminhar, só caminhar e se sentir parte da metrópole. Ver de fora e de dentro. Saber que se vai embora, mas que agora se está ali, dentro daquele momento. Sentir uma quase náusea pelo excesso de informações: cartazes, música, cheiros, sabores, vozes, rostos, luzes...
O prazer de reencontrar sensações conhecidas e ver outra pessoa tendo pela primeira vez essas sensações, conhecendo a cidade e se encantando com ela é algo que só se pode ter quando se sente intensamente o ambiente, quando se entra em contato direto com ele. Queríamos muito estar lá, queríamos a companhia um do outro e caminhar pela cidade nos ajudou a descobri-la. Nos deu tempo de contemplar e pensar sobre o que estávamos vendo, nos deu liberdade para virar nas esquinas que escolhemos, tirar as fotos que queríamos, entrar em qualquer lugar a qualquer momento.
Sim, usar sapatos confortáveis é um dos segredos da felicidade. Ou, “caminante no hay camino, se hace el camino al andar”.

Recoleta

Um dos bairros mais lindos de Buenos Aires. Seguem algumas fotos do famoso cemitério, onde estão os restos mortais de Evita Peron. Talvez, o lugar mais tranqüilo e solene que há por lá.




quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Mi pueblo querido!

Já fazem alguns dias que cheguei de viagem. Entretanto, parece que ainda não aterrizei, as idéias pipocando. Perdón pela demora, eis então que divido algo com vocês.
Buenos Aires é, de fato, linda (adjetivo elevado à máxima potência). Cada coisa, uma mais fascinante do que a outra... prédios, monumentos, livrarias, bares, pessoas, etc. Sim, os argentinos são muito bonitos, se vestem elegantemente e usam uns cortes de cabelo estupendos (estilo Chitãozinho e Xororó). Quando saí do Brasil, uma garôa fina caía sobre Porto Alegre, mas por lá os dias foram de sol. Andar de avião foi uma experiência, inicialmente, um tanto conturbada. Tudo aconteceu muito rápido. Decolamos, me encantei com a constatação de que aquele amontoado de ferro podia mesmo voar, e o que é mais impressionante, comigo dentro. Quando dei por conta, estávamos sobrevoando Montevideo e nos preparando para aterrizarmos em solo argentino. Aí é que veio o mal estar, a cabeça a ponto de explodir, me segurei firme na poltrona, minha amiga ria de mim e perguntava se estava tudo bem. Contrariando o que disse minha chefe, andar de avião não é como andar de montanha-russa, mas sim de elevador, só que com efeitos muito mais acentuados.
Chegando lá, uma sensação que não sei nem explicar. Aliás, acho que nosso vocabulário não tem palavras para descrever, nem meio terço daquilo que podemos sentir. E imerso nestes sentimentos não-batizados dei meus primeiros passos em Buenos Aires. Meu espanhol, posso dizer que é quase um português. Mas logo a gente vai descobrindo o nome das coisas e tudo começa a fluir. Se não for assim, é um deus nos acuda, porque os argentinos te estimulam a hablar o tempo todo, oferecendo mercadorias, serviços, etc... uma das primeiras coisas que se aprende a dizer, sem sombra de dúvida, é: "No, Gracias!".
Um dos momentos mais incríveis, foi quando andei sozinho por lá. Foi o único momento em que eu e minha companheira de viagem nos desgrudamos. Ela, cansada, resolveu ir pro hotel. E eu, serelepe, resolvi me aventurar pela noite porteña. Imaginem o que é estar sozinho em uma cidade desconhecida, sem conhecer ninguém, sem nem saber pra que lado é o norte e não entender direito o que as pessoas falam, muito menos elas entenderem o que você diz. Um oceano de possibilidades. Resultou que conheci, primeiro Ariel, um dançarino da Tango encantador, que me fez ver o sol nascer em Buenos Aires e caminhou comigo por lugares inimagináveis, sempre a me olhar e sorrir, achando o máximo meu portunhol. Depois Martin, um super fã de rumba, que dançava melhor até do que a Thalia e era amigo de Celeste, uma niña de olhos verdes pra lá de simpática. Saludos para ustedes!
Agora, aqui no Brasil, fecho os olhos e ainda ouço a sonoridade daquele país, enxergo as pessoas passeando pela avenida 09 de Julho, sinto o cheiro das empanadas... e assim vai ser por muito tempo. Dizem que as sensações de uma viagem ficam gravadas na mémoria de uma pessoa por quase dez anos. Mas nem precisa tanto, logo logo estou de volta.

Me aguardem, meus amigos porteños!