terça-feira, 23 de novembro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Extremos da Paixão

lá vem o amor nos dilacerar de novo...
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo - porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se no símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Cazuza canta Clarice
"Gosto de coisas densas, como a literatura de Clarice Lispector. Por falar nela, acabei de compor "Que o Deus venha", uma música inspirada em meu livro de cabeceira, 'Água Viva'".
QUE O DEUS VENHA
Sou inquieto, áspero
E desesperançado
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto
Continuo inquieto
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É o inesperado
Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida
sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Um romance ao acaso
Lembraram de tantos outros...
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Quando Setembro Vier

Na sala, encontrei a mesa posta para o café — leite e pão frescos, mamão, suco de laranja, o jornal ao lado. Comi bem devagarinho, lendo as notícias do dia. Tudo estava em paz, no Nordeste, no Oriente Médio, nas Américas Central, do Norte e do Sul. Na página policial, um debate sobre a espantosa diminuição da criminalidade. Comi, li, fumei tão devagarinho que mal percebi que estava atrasado para o trabalho. Achei prudente ligar, avisando que iria demorar um pouco.
A linha não estava ocupada. Quando o chefe atendeu, comecei a contar uma história meio longa demais, confusa demais. Só quando ele repetiu calma, calma, pela terceira vez, foi que parei de falar. Então ele disse que tinha acabado de sair de uma reunião com os patrões: tinham decidido que meu trabalho era tão bom, mas tão bom que, a partir daquele dia, eu nem precisava mais ir lá. Bastava passar todo fim de mês, para receber o salário que havia sido triplicado.
Desliguei um pouco tonto. Então, podia voltar a meu livro? Discreta e silenciosa como sempre, a empregada tinha tirado a mesa. No centro dela, agora, sobre uma toalha de renda branca, havia rosas cor de chá, aquelas que Oxum mais gosta. No escritório, abri as gavetas e apanhei a pilha de originais de três anos, manchados de café, de vinho, de tinta e umas gotas escuras que pareciam sangue. Reli rapidamente. E a chave que faltava, há tanto tempo, finalmente pintou. Coloquei papel na máquina, comecei a escrever iluminado, possuído a um só tempo por Kafka, Fitzgerald, Clarice e Fante. Não, Pedro não tinha ido embora, nem Dulce partido, nem Eliana enlouquecido. As terras de Calmaritá realmente existiam: para chegar lá, bastava tomar a estrada e seguir em frente.
Escrevi horas. Sem sentir, cheio de prazer. Quando pensava em parar, o telefone tocou. Então uma voz que eu não ouvia há muito tempo, tanto tempo que quase não a reconheci (mas como poderia esquecê-la?), uma voz amorosa falou meu nome, uma voz quente repetiu que sentia uma saudade enorme, uma falta insuportável, e que queria voltar, pediu, para irmos às ilhas gregas como tínhamos combinado naquela noite. Se podia voltar, insistiu, para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor e para sempre agora. Os passaportes estavam prontos, nos encontraríamos no aeroporto: São Paulo/Roma/Atenas, depois Poros, Tinos, Delos, Patmos, Cíclades. Leve seu livro, disse. Não esqueça suas partituras, falei. Olhei em volta, a empregada tinha colocado para tocar A sagração da primavera, minha mala estava feita. Peguei os originais, a gabardine, o chapéu e a mala. Então desci para a limusine que me esperava e embarquei rumo a.
P.S. — Andaram falando que minhas crônicas estavam tristes demais. Aí escrevi esta, pra variar um pouco. Pois como já dizia Cecília/Mia Farrow em A rosa púrpura do Cairo: “Encontrei o amor. Ele não é real, mas que se há de fazer? A gente não pode ter tudo na vida...” Fred e Ginger dançam vertiginosamente. Começo a sorrir, quase imperceptível. Axé. E The End.
Caio Fernando Abreu - publicado em O Estado de S. Paulo, 27/08/1986.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Todo Amor que Houver Nessa Vida
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria
quinta-feira, 29 de abril de 2010
As Melhores Coisas do Mundo
Outra coisa: a cena da Denise Fraga atirando ovo na parede é algo.
Abracinho pra vocês!
quarta-feira, 17 de março de 2010
Guns N' Roses

Depois da conturbada turnê por outras cidades do Brasil, em que houve cancelamento de shows, atrasos e mal-entendimentos, aqui pelos pampas não poderia ocorrer de outro modo. Que o inicio da apresentação das bandas de abertura seria às 19h, isso ninguém levava mesmo fé, mas também não precisavam exagerar ao ponto de as criaturas pisarem no palco às 23h45.
O público que, em grande maioria, chegou na FIERGS por volta das 19h30, enfrentou uma fila de, nada mais, nada menos que um kilometro e meio (até maior em alguns horários) para acessar o local do show. "Respira fundo, neguinho!" Enfim adentro, camiseta do Guns (comprada na fila mesmo, pela bagatela de R$20), bandana na cabeça e muita vontade de assistir aos resquícios da banda que tanto se idolatrou na adolescência, é hora de ir se infiltrando até encontrar um cantinho próximo ao palco, ou onde ao menos se tenha uma visão razoável dele. Passa-se uma hora, e nada do show. Duas horas, e nada do show. Cata-se à unha o tiozinho do isopor, pra tentar matar a sede. Àgua? R$ 6,00, duas por R$10,00 (o copinho, não a garrafa). Começa a bater aquela fome, frio, dor nas pernas por ficar tanto tempo em pé, cheiro de maconha tomando conta. Beleza Pura! E você começa a pensar: "Se eu tivesse ido a um show do Roupa Nova, não aconteceriam essas coisas".
Quando finalmente sobe ao palco o pessoal da Rosa Tattooada, o som é abafado, a multidão vaia. O coitado do Jacques Maciel, muito sem jeito, explica que até 20 minutos antes, a decisão era de que a banda não tocaria. Mesmo assim, os caras bateram pé e subiram ao palco na cara e na coragem pra "passar o recado" de que queriam muito estar ali, tocando pra aquele povo, inclusive sem o guitarrista, que foi substituído. Rolaram três músicas, a muito custo. Quanto à Tequila Baby, nem sinal.
Sebastian Bach entrou meia noite. Primeiro o público ficou meio na defensiva, mas Sebastian mostrou um bom jogo de cintura pra acalmar os ânimos da galera. O cara batia cabelo, girava o microfone no ar e demonstrou um enorme carisma repetindo algumas frases que aprendeu em português: "Estou muito feliz por estar aqui. Desculpem pelo atraso, nosso equipamento foi destruído. Vocês estão prontos para o Guns N'Roses?"
Com quatro horas de atraso, eis que surge o Guns. A partir daí, pode-se dizer que começou o show. Logo de cara, Axl entrou cantando a música que dá nome ao novo álbum da banda, Chinese Democracy, seguida do clássico Welcome To The Jungle. Quem estava, até então, cansado de tanta espera, deixou a dor nas pernas pra lá e pulou e cantou junto os hits que embalaram uma geração. Se por um lado os fãs não demonstraram tanta empolgação com as músicas do novo CD, por outro, fervilharam ao ouvirem sucessos como Sweet Child O' Mine, November Rain, Patience e Paradise City. Axl Rose também esforçou-se ao máximo para corresponder à espectativa do público e, mesmo estando uns kilos acima do desejado e com uns bons anos a mais, correu pelo palco e tentou reproduzir as coreografias dos vídeos-clipe de sucesso da banda nos anos 80/90. Ao cantar uma das últimas canções, um fã atirou aos pés de Axl um boneco de pelúcia do Homer Simpson. Em tom de brincadeira, Axl colocou o boneco dentro da calça e o acariciou como se dissesse : "Gordo é o meu pau!". Outro momento de euforia foi quando o guitarrista DJ Ashba colocou sobre os ombros, como capa, uma bandeira do Rio Grande do Sul, enquanto a multidão gritava "ahhh, eu sou gaúcho!".
Então... como eu dizia... nem só de atrasos e confusões se faz um show do Guns N'Roses.
quinta-feira, 4 de março de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Montevideo I - Fuente de los Candados
FUENTE DE LOS CANDADOS

"A lenda desta jovem fonte diz que se nela se colocar um cadeado com as iniciais de duas pessoas que se amam, voltarão juntas a visitá-la e seu amor viverá para sempre."

Eis a surpresa ao andar por uma calçada qualquer da Avenida 18 de Julho, centro de Montevideo. Essa charmosa e poética fonte. Não deixei nenhum cadeado por lá, mas óbviamente, vendo todos aqueles cadeados com todas aquelas iniciais, a gente acaba sentindo um pouco a vibe das tantas histórias de amor (ou das utopias) que estiveram por ali. Quantos será que retornaram?
domingo, 24 de janeiro de 2010
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Ninho




... e os discos que escuto noite após noite, e os livros que leio para viver as vidas que não vivo, e as fotografias que lembram as coisas que ficaram pelo caminho, e os brinquedos que não deixam esquecer que já houve juventude, e as cartas de amor que não deixam esquecer que já houve amor, e o Garfield de pelúcia que comprei para ME dar de presente no último dia dos namorados.